PERU

As indefesas florestas
subaquáticas do Peru


Autor: Roberth Orihuela Quequezana

A demanda chinesa por algas marinhas propiciou uma superexploração deste recurso no Peru e nada ou ninguém parece poder enfrentar a depredação.

Uma caminhonete 4x4 aparece de repente na estrada de terra sob o sol escaldante do verão e se aproxima perigosamente de um penhasco. A apenas dois metros do abismo, vira e entra por um desvio que lhe permite descer até uma das muitas enseadas e praias escondidas por entre as rochas e os penhascos existentes no litoral da região de Arequipa, ao sul do Peru. Ali, dois homens carregam várias pilhas de algas secas e as colocam no veículo, capaz de transportar até 2,5 toneladas. Após alguns minutos, saem dirigindo pela mesma estrada. Serpenteiam pelo terreno ermo, sem se perder no emaranhado de rastros deixados por outras caminhonetes e motos de coletores de algas que transitam por ali para retirá-las de lugares que poderiam parecer impossíveis a qualquer um. A 4x4 se perde na direção da rodovia Panamericana Sur — a artéria de asfalto que liga o Peru de norte a sul —. Seu destino é uma das muitas fábricas de moagem existentes na região. Essas empresas então a exportam como farinha para o gigante asiático, a China.

Isso porque o negócio de algas marinhas não para no Peru desde os primeiros anos do milênio, posicionando-o como o segundo exportador desse produto aquático na América Latina, atrás apenas do Chile. Em 2003, as exportações foram de pouco mais de 3 mil toneladas e, em 2022, aumentaram em mais de 50 mil, quase todas obtidas nas regiões do sul peruano. A que se deve esse crescimento?

Acontece que as espécies de algas pardas (sargaço, huiro e aracanto) são ricas em alginato, uma espécie de espessante ou gel natural utilizado pelas indústrias chinesas em diversos produtos, desde cosméticos e fármacos a conservantes alimentícios, têxteis e fertilizantes. E a natureza abençoou o sul peruano e o norte chileno com todas as condições para que, em suas águas, proliferem as imensas florestas marinhas.

  • Algas marinas en Perú

    No sul peruano há grandes florestas de algas marinhas pardas ricas em alginato.FOTO: Iván Salcedo

  • Algas marinas en Chile

    Os coletores de alga ilegais têm habilidade para ingressar em áreas de difícil acesso.FOTO: Iván Salcedo

  • Algas marinas en Chile

    Com a ajuda das autoridades e por iniciativa própria abriram vias entre o deserto costeiro.FOTO: Iván Salcedo

  • Algas marinas en Chile

    Em Chala formaram uma grande comunidade onde comercializam sem a fiscalização das autoridades.FOTO: Iván Salcedo

Antes do ano 2000, no Peru, as algas não despertavam interesse dos pescadores artesanais costeiros. Mas, pouco a pouco, elas se tornaram uma fonte importante e até essencial de renda para muitos deles. Aqueles que hoje se especializaram em sua extração utilizando técnicas ilegais, como a barreta (barra de ferro cilíndrica e pontiaguda), picaretas ou mergulhando no fundo do mar. Isso apesar de a lei peruana permitir apenas a coleta do que o mar traz para as praias. Dessa forma, estão afetando o delicado equilíbrio do ecossistema do qual dependem mariscos, moluscos e peixes.

De acordo com os pescadores que se opõem aos coletores de algas, a atividade ilegal reduziu a produção marinha que serve de matéria-prima à gastronomia local: barquillos, lapas, mexilhões, polvos e determinadas espécies de peixe já não podem ser encontrados ou são escassos em mercados e restaurantes. E isso sem falar que o desaparecimento dos prados de algas também pode afetar a produção de oxigênio e a remoção de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera da Terra, pois produzem entre 50% e 85% do oxigênio que é liberado ao planeta.


Usos das algas

Usos de las algas • Podem ser consumidas como complemento de molhos, sopas, conservas, ensopados com carnes e até em doces.
Usos de las algas • Como alimento de espécies aquáticas, aves ou gado.
Usos de las algas • São empregadas na produção de fármacos no tratamento contra o câncer, em nutrição e terapias naturais.
Usos de las algas • Os extratos de algas são usados para baixar o colesterol e a pressão sanguínea.
Usos de las algas • São utilizadas na produção de cosméticos e maquiagens.
Usos de las algas • Cremes hidratantes.
Usos de las algas • Para o tratamento de rugas, proteção solar, tratamento capilar.
Usos de las algas • Como fertilizantes agrícolas.
Usos de las algas • Na indústria têxtil, as algas são usadas para imprimir cores nos tecidos.
 
Algas en Perú
O negócio de algas marinhas não para no Peru desde os primeiros anos do milênio, posicionando-o como o segundo exportador desse produto aquático na América Latina, atrás apenas do Chile. Em 2003, as exportações foram de pouco mais de 3 mil toneladas e, em 2022, aumentaram em mais de 50 mil, quase todas obtidas nas regiões do sul peruano.

O boom das algas

Sixto Rojas é um líder dos pescadores artesanais da província de Caravelí, ao norte de Arequipa. Enquanto caminha pelas praias do distrito de Chala, este homem baixinho com a pele bronzeada pelo sol e pela salinidade do mar explica que os pescadores recolhiam as algas que o mar trazia para vender aos armazenadores que as levavam para o Chile. Lá eram processadas para serem enviadas à China. “A produção era mínima porque não valia muito e porque aqui as pessoas viviam da pesca”, acrescenta.

Mas desde 2008 o aumento do valor das algas causou um boom; pois as algas exportadas passaram de uma média de US$ 393, entre 2001 e 2007, para US$ 650 a tonelada. Os empresários do Chile e os armazenadores peruanos pediam mais algas aos pescadores artesanais e lhes ofereciam mais dinheiro. Logo alguns comerciantes chilenos e outros chineses instalaram fábricas de processamento no porto de Matarani, na província arequipenha de Islay e, em seguida, no distrito de Atico, em Caravelí, com o objetivo de reduzir os custos de transporte e exportar mais facilmente. “E essas algas que enviamos retornam na forma de produtos processados que custam milhares de vezes mais. Fazem cosméticos, remédios e até fertilizantes”, acrescenta Sixto Rojas.

O crescimento do negócio provocou uma proliferação de empresas que se dedicam exclusivamente a armazenar e triturar algas. Passamos de dois grandes exportadores em 2002 para mais de dez em 2005. E até o momento já são mais de 176 empresas registradas, das quais as maiores ainda podem ser contadas nos dedos. Essas empresas, apontam os pescadores e também as sanções e investigações por parte das autoridades locais, são as principais promotoras da extração ilegal de algas.

Uma das empresas que promoveu o boom das algas no país foi a Algas Multiexport del Perú SAC. Com capital chileno e criada em 1997, exportou mais de 32 mil toneladas até 2016. Após vários problemas financeiros, os proprietários e executivos da empresa mudaram o nome para Sudamericana Empaque de Algas SAC, e, em outubro de 2020, o Poder Judiciário peruano declarou a empresa falida e iniciou o processo de liquidação. Hoje deve 9,291 milhões de soles (US$ 2,5 milhões) em impostos ao governo peruano. A empresa indica um local em um edifício na cidade arequipenha, mas ninguém ali tem informações sobre ela e não há como contatá-la.

Outra das antigas empresas que exportava grande quantidade, e não cumpria a lei, era a Crosland Tecnica SA. Trata-se de um conglomerado empresarial com investimentos em setores automotivo, imobiliário, gastronômico, ferroviário e outros bens de consumo, como algas. Essa empresa se aventurou na exportação de algas dos anos 90 até 2016. Naquele ano, o Ministério da Produção (Produce) a puniu por operar uma fábrica de trituração de algas sem equipamento e instrumentos exigidos por lei. Os empresários aceitaram a acusação e buscaram se amparar na rescisão antecipada para pagar apenas o equivalente a US$ 4 mil. No entanto, o Ministério rejeitou a tentativa, multando-a em S/ 59,250 mil ou US$ 18 mil, além de suspender sua licença de operação.

Depois disso, a Crosland Tecnica SA transferiu seu investimento no negócio das algas para sua subsidiária Algaex SA. Como indica na seção trajetória empresarial, em seu portal da web. Desde então e até hoje essa empresa exportou outras 31 mil toneladas de algas marinhas com suas três fábricas de processamento localizadas na região de Ica. Embora nenhuma delas apareça no registro das fábricas pesqueiras do Produce.

Uma cadeia de ilegalidades

A exportação total de algas marinhas em 2022, segundo o registro da Superintendência Nacional de Administração Tributária e Aduaneira (Sunat), foi de 50.635 toneladas. Isso é 14% a mais do que foi exportado em 2021 e 40% a mais do que foi exportado em 2020. E sem precisar ir muito longe, é quase o dobro do que foi exportado em 2017.

Esse rápido crescimento das exportações se deve a dois fatores, explica o líder Sixto Rojas. O primeiro é a disposição dos coletores de algas para depredar todas as algas que puderem enquanto o preço justificar. E o segundo são as empresas que processam e exportam as algas e que promovem a depredação, sem se importar com a procedência legal ou ilegal.

Luci Córdova é uma moradora do distrito de Chala. Não é pescadora nem coletora de alga reconhecida pelas associações locais, mas recolhe as algas trazidas pelo mar às praias próximas à sua casa. Essa mulher de cinquenta anos é pai e mãe de seus filhos e não tem emprego fixo. Viu na coleta de algas um meio de ganhar alguns soles e sempre que pode vai à praia apanhá-las com os filhos.

“Como não somos registrados, os coletores de algas pegam as nossas algas e nos mandam embora. No final, recolhemos apenas as sobras, com o que não se importam. Pedimos para nos deixar entrar na associação, mas pedem muito dinheiro e nos rejeitam. Já tomaram conta das praias e também sabemos que se dirigem às enseadas, onde é difícil acessar, e depredam. Nós, não, nós apenas coletamos”, conta Luci, enquanto mostra as pilhas de algas que juntou há mais de dois meses e pelas quais buscará obter no máximo o equivalente a US$ 400 dólares.

Luci e sua família vendem as algas a um armazenador, que chega quando menos esperam e paga em dinheiro sem pedir um certificado de procedência (documento emitido pelo Produce que atesta que a alga não foi obtida por meio de técnicas ilegais) ou suas carteiras de pescadores artesanais, emitida pela gerência regional do Ministério da Produção.

  • Algas marinas en Perú

    Muitas famílias e mulheres vão às praias recolher as sobras das algas que os coletores clandestinos não aproveitam.FOTO: Iván Salcedo

  • Algas marinas en Perú

    Luci Córdova mostra as algas que conseguiram recolher quase secretamente dos coletores de algas ilegais para ganhar algum dinheiro.FOTO: Iván Salcedo

  • Algas marinas en Perú

    Os coletores de algas ilegais criaram um pseudo porto no distrito de Chala, onde armazenam todas as algas extraídas.FOTO: Iván Salcedo

  • Algas marinas en Perú

    As pequenas praias do litoral são as áreas preferidas dos coletores para deixar as algas extraídas secar.FOTO: Iván Salcedo

  • Algas marinas en Perú

    É comum encontrar pilhas de algas em algumas das casas dos habitantes de Chala.FOTO: Iván Salcedo

“Estes armazenadores em seguida as levam às fábricas trituradoras, que legalizam as algas”, explica o líder Sixto Rojas. Ele se refere ao fato de as empresas e as Organizações Sociais de Pescadores Artesanais (OSPAs) emitirem esses certificados de procedência para legalizar as algas que os armazenadores lhes vendem. Como também confirmam os funcionários do governo regional de Arequipa, como o subgerente de Pesca, Omar Paz Valcarcel, que ainda aponta que isso é feito por falta de fiscais no setor.

“Em outros casos, os coletores de algas que não têm autorização pedem aos associados para emitirem um certificado. Claro que isso tem seu custo, mas o aceitam, pois ainda assim saem ganhando. E as autoridades não fazem nada. É fácil perceber quando uma alga é cortada e quando é colhida na praia. Bastaria ir até as fábricas e esperar as algas chegarem”, acrescenta Rojas.

Uma das empresas com essas práticas é a Globe Seaweed International SAC. Essa empresa de capitais chineses é hoje a principal exportadora de algas marinhas. Desde 2005, quando começou a operar, enviou mais de 191 mil toneladas à China. E em seus 18 anos de vida, a Globe Seaweed International foi punida sete vezes pelo Ministério da Produção por fornecer informação falsa ou incompleta sobre suas operações, impedir o trabalho dos fiscais, realizar operações pesqueiras sem autorização e processar algas sem certificado de procedência.

De acordo com a imprensa local, em 2008 o Ministério Público e a Polícia intervieram nos armazéns da Globe Seaweed International localizados no distrito de La Joya (Arequipa) quando um trailer com 15 toneladas de algas sem certificado de procedência foi descarregado. Em 2016, o Produce apurou que a empresa processava algas obtidas com técnicas ilegais e sem certificado de procedência exigido por lei. Receberam uma multa de o equivalente a US$ 125 mil, nada além disso.

Da mesma forma, em fevereiro de 2016, as autoridades fiscais apreenderam 34 contêineres cheios de algas no valor de US$ 637 mil que estavam prestes a serem embarcados em navios para exportação. E em julho desse mesmo ano, o Ministério da Produção voltou a intervir nos armazéns da empresa com 13 toneladas de algas marinhas que não tinham certificado de procedência. Finalmente, naquele ano, deixaram a região de Arequipa e se mudaram para Ica. Desde então, não voltaram a ser incomodados pelas autoridades. Isso apesar de nenhuma das nove fábricas produtivas, indicadas pela empresa no seu cadastro de estabelecimentos anexos, constar do registro de Fábricas Pesqueiras do Ministério da Produção.

Outra grande exportadora com más antecedentes é a Algas Sudamérica SAC. A empresa, criada em dezembro de 2015 com capital de apenas S/ 6 mil ou US$ 1,5 mil, cresceu rapidamente e, em seu primeiro ano de operação, movimentou mais de US$ 1,4 milhão. Depois tudo foi ladeira acima. Até o momento, já faturou cerca de US$ 20 milhões. Mas a empresa não é totalmente responsável. O Produce já puniu a Algas Sudamérica em duas oportunidades por não apresentar a documentação de seus carregamentos de algas no momento da intervenção nem no prazo estabelecido pela entidade. Vale ressaltar mais uma vez que nenhuma das quatro fábricas de processamento da empresa nas regiões de Ica e Arequipa consta no cadastro de Fábricas Pesqueiras do Produce.

Assim, a lista de empresas punidas pelo Produce soma 19; 10,5% de todas as que operam no país. (Lista completa)

Para esta reportagem, visitamos os armazéns e as fábricas de processamento dessas empresas e os trabalhadores disseram que não podiam se manifestar. Deixamos nosso contato para que os proprietários pudessem ter direito de resposta, mas nunca nos ligaram.

Quem respondeu foi o gerente de Produção do Governo Regional de Arequipa (GORE Arequipa), Luis Vargas Choque. Mas disse não conhecer o tema e mencionou que, de toda forma, não podia fazer nada e nos transferiu para o subgerente de Pescaria Omar Paz Valcárcel. Dias depois, Vargas Choque deixou o cargo.

Paz Valcárcel afirmou e esclareceu que o governo regional já não conta com poderes para fiscalizar as fábricas de processamento de algas. Isso porque desde 2017 o Produce determinou que as fábricas não podiam mais ser artesanais, mas sim industriais. Isso fez com que as empresas iniciassem um processo de adaptação que já dura mais de cinco anos, e parece não ter mudado o panorama.

“Sabemos que muitas das fábricas continuam com as técnicas rudimentares de sempre”, acrescentou Paz. O funcionário desculpou-se ainda pela falta de fiscalização da atividade dos coletores de algas nas praias e enseadas da região. Disse que, apesar da mudança de autoridades, em janeiro deste ano, a situação não mudou.

“Continuamos com três fiscais, e não conseguimos cobrir os 521 quilômetros de litoral da região. Também não temos logística nem orçamento para realizar as operações, embora estejamos sempre em coordenação com a Polícia”, disse. O funcionário explicou ainda que esses três fiscais não só precisam supervisionar a atividade dos coletores de algas, mas toda a atividade marinha e a realizada nos rios da região. Uma tarefa por si só gigantesca.

Uma saída com valor agregado

Enquanto em Arequipa e Ica os coletores de algas, armazenadores e empresas depredam as florestas de algas marinhas para aumentar seus lucros, na região de Moquegua, no porto de Ilo, o panorama é totalmente distinto. Ali há somente três associações de coletores de algas que contam com apenas 35 membros registrados, que realizam o trabalho de coleta cumprindo estritamente as disposições indicadas na lei de aproveitamento das algas marinhas. A mesma prevê que só podem se aproveitar das algas trazidas pelo mar de forma natural.

Mapa Chile

Em Ilo, estão banidas as técnicas ilegais como o uso de barreta (barra de ferro cilíndrica e pontiaguda) ou de corte com ganchos ou por mergulho das algas marinhas. José Zapata, líder da Associação Las Brisas, explica que antes de 2012 os coletores depredavam impiedosamente as florestas marinhas, mas perceberam que também estavam afetando outras atividades, como a pesca artesanal e a extração de mariscos. “Desde então nos organizamos e existe um acordo mútuo de cumprimento para não cortar a alga, mas apenas recolhê-la. O objetivo é obter um equilíbrio: que nós possamos obter lucros, mas sem afetar o ecossistema”, disse Zapata.

Este jovem líder diz que as associações procuram tirar o máximo proveito da sua atividade, tecnificando-se. José, por exemplo, estudou engenharia de Pesca na Universidade Nacional de Moquegua (UNAM) e conseguiu pagar seus estudos com a atividade de coletor de algas. Depois, começou a se especializar no cultivo de algas marinhas e trouxe a ideia para a sua associação. Com o apoio de todos, conseguiram ganhar os subsídios de falência que a empresa mineradora Quellaveco convocou como parte de seus programas de responsabilidade social. E com os primeiros prêmios, Zapata e outros coletores de algas puderam se capacitar no Chile e, em seguida, contratar especialistas para lhes ensinar os primeiros passos no cultivo de algas.

Hoje, Las Brisas conta com um laboratório de cultivo de algas localizado na sede do Ministério da Produção, a poucos minutos do porto de Ilo. Ali Zapata e seu parceiro Esaú Calagua mostram o processo que realizam. Para cultivar algas da variedade yuyo, precisam cortar as ramas, como se fossem pezinhos de plantas e, em seguida, estimular seu crescimento em cordas de ráfia, que são levadas para suas “partes” localizadas em uma praia próxima. Lá eles têm 18 linhas de 100 metros cada e das quais podem obter cerca de uma tonelada por linha duas vezes por ano. A alga colhida era vendida sem ser processada aos restaurantes da cidade portuária, mas há dois anos deram mais um passo em seu projeto: estão gerando valor agregado ao produzir produtos comestíveis e de consumo.

Ciclo de cultivo del yuyo

Os coletores de algas de Ilo aprenderam a cultivar algas da variedade yuyo, graças à ajuda da mineradora Anglo American.
As algas yuyo crescem rapidamente após cortar um "pezinho" de uma maior.

José Zapata mostra com orgulho a geleia, a farinha de alga, o fertilizante e a alga desidratada que estão elaborando e são vendidos em alguns comércios e empresas, como a Quellaveco, demonstrando seu sucesso. “O que buscamos é parar de vender matéria-prima e gerar uma pequena indústria em torno das algas. E já estamos ganhando clientes, que nos pedem mais produto e para isso precisamos aumentar a magnitude de nossos cultivos. Agora temos de pensar como empresa, para ganhar rentabilidade”, acrescenta Zapata no escritório da associação, onde vende, por exemplo, dois potes de geleia de marmelo enriquecida com farinha de algas por 15 soles ou US$ 4.

Enquanto isso, no distante distrito arequipenho de Chala, onde os coletores de algas continuam depredando as pradarias marinhas, o líder Sixto Rojas sonha que um dia seus compatriotas e autoridades regionais implementem um programa de cultivo de algas para gerar valor agregado e conceber uma pequena indústria para venda local e, por que não, para exportação.

“Assim, deixaram de ser predadores para nos converter em transformadores. Mesmo se tivéssemos uma pequena indústria, os coletores de algas deixariam de depredar e aproveitariam apenas o necessário para produzir produtos de valor agregado. O que precisamos é nos tecnificar, mas sozinhos não conseguimos. Precisamos que as autoridades regionais se interessem”, acrescenta Rojas, enquanto observa como um sol avermelhado vai se perdendo no horizonte do Oceano Pacífico.

Nota do editor: Para esta reportagem, foi solicitada uma entrevista com algum representante do Ministério da Produção (PRODUCE). Primeiro, tentamos por telefone, mas não houve resposta. Em seguida, foi enviada uma solicitação documentada, mas até o fechamento também não responderam.

  • Algas marinas en Perú

    Rufo Chávez é um coletor de alga de Ilo que compreendeu a importância de preservar as florestas marinhas.FOTO: Rodrigo Talavera

  • Algas marinas en Perú

    Os coltetores de algas de Ilo entenderam que devem preservar as florestas marinhas e deixaram de extrair para apenas coletar.FOTO: Rodrigo Talavera

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    A produção de algas em Ilo é mínima em comparação ao que se extrai em Arequipa e Ica, pois só coletam.FOTO: Rodrigo Talavera

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    Rufo Chávez mostra o rizóide de uma alga que é arrastada pelas ondas do oceano.FOTO: Rodrigo Talavera

  • “E essas algas que enviamos retornam na forma de produtos processados que custam milhares de vezes mais. Fazem cosméticos, remédios e até fertilizantes”

    SIXTO ROJAS, Líder dos pescadores artesanais da província de Caravelí

  • “Desde então nos organizamos e existe um acordo mútuo de cumprimento para não cortar a alga, mas apenas recolhê-la. O objetivo é obter um equilíbrio: que nós possamos obter lucros, mas sem afetar o ecossistema”

    JOSÉ ZAPATA, Líder da Associação Las Brisas

  • “O que buscamos é parar de vender matéria-prima e gerar uma pequena indústria em torno das algas. E já estamos ganhando clientes, que nos pedem mais produto e para isso precisamos aumentar a magnitude de nossos cultivos”

    JOSÉ ZAPATA, Líder da Associação Las Brisas

  • “Assim, deixaram de ser predadores para nos converter em transformadores. {...}. O que precisamos é nos tecnificar, mas sozinhos não conseguimos. Precisamos que as autoridades regionais se interessem”

    SIXTO ROJAS, Líder dos pescadores artesanais da província de Caravelí

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PUBLICADO: 25-maio-2023